- In Roquette Pinto, E. 1986. Rondônia. (Brasiliana, v. 39). 6.ª ed. São Paulo: Nacional; Brasília: INL.
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Do grande impacto sobre a nação brasileira resultante da campanha de Rondon em favor do selvagem abandonado, nenhuma expressão teve, no mundo da cultura brasileira, a repercussão deste livro. Uma série de relatórios, micrografias, pesquisas e diários constituem o riquíssimo acervo da antiga Comissão, depois desdobrada em serviços, conselhos e institutos. Mas nenhum desses trabalhos tocou a alma do povo brasileiro e, depois, atingiu o estrangeiro, como Rondônia — pelo tom, ao mesmo tempo científico e emotivo, com que desdobrou, perante o público, o quadro empolgante da obra que se empreendia. A simpatia pessoal do autor — uma das mais irradiantes do Brasil moderno — se transferiu ao volume que se tornou imediatamente clássico.
Aqui se encontram observações preciosas, algumas quase proféticas, em matéria de etnografia e até de nosologia, com contribuições quase a cada passo. O índio brasileiro encontra nesta obra um defensor intimorato da verdade e um destruidor de um acervo imenso de preconceitos acumulados por escritores levianos ou por aventureiros, interessados e cruéis. O autor (1884-1954) era então um jovem médico que defendera tese sobre "O exercício da medicina entre os selvagens da América" e ardia de entusiasmo pelo empreendimento do jovem militar cujo nome assumiria gradualmente uma posição em nossa História da Civilização. Roquette-Pinto era então professor de Antropologia no Museu Nacional e foi atraído, por espírito científico e por patriotismo, para a órbita de Rondon, que passou a ser, desde então, um dos alvos de sua capacidade inaudita de admirar e venerar a virtude. Mas "Rondon tem para perpetuar a sua gloriosa missão a obra científica de Roquette-Pinto". É o conceito de um especialista, Castro Barreto, sintetizando a importância de Rondônia em palestra em que nos estamos inspirando.
A obra apareceu antes nos Arquivos do Museu Nacional em 1917. Mas a terceira
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edição, exatamente publicada nesta coleção Brasiliana em 1935, é enriquecida de notas por uma equipe de amigos e discípulos, todos grandes nomes de nosso mundo científico: Alberto José de Sampaio, Alvaro Osório de Almeida, Melo Leitao, Olímpio da Fonseca Filho, Fábio Werneck, Heloísa Alberto Torres e Raimundo Lopes. Com material sobre os parecis e nambiquaras, Roquette-Pinto reuniu copioso acervo, que faz deste livro, no juízo de Herbert Baldus, "uma das mais notáveis fontes da etnologia brasileira, principalmente a respeito da cultura material destes índios da Serra do Norte".
Escreveu, ainda no setor da Antropologia, os Ensaios de antropologia brasiliana, publicados nesta mesma coleção, e várias obras menores, sempre fiel as suas doutrinas e seus ideais. Mas nenhuma obra superou a Rondônia em penetração popular, a ponto de se tornar imprescindível a uma coleção de estudos brasileiros. O autor recebeu, em virtude dela, a medalha de ouro D. Pedro II, conferida pelo Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro, honra conferida raramente. Dela foram alvo Capistrano de Abreu e Basílio de Magalhães.
A prova do interesse que a obra continua a despertar temo-la na edicao alemã. E. Roquette-Pinto: Rondónia — Eine Reise in das herzstück Südamerikas. Wien-Stuttgart, Wilhelm Braumüller, 1954, tradução do dr. Etta Becker-Donner. Trata-se de uma cuidada e primorosa apresentação.
Quem teve a felicidade de conhecer e lidar com o Autor, guardará sempre a lembrança da impressionante capacidade de atração e a sensação profunda de respeito por uma alma cujo idealismo transparecia em todas as suas manifestações. Mesmo quando não se seguia a sua lição, a sinceridade do pregador tolhia qualquer movimento malévolo. Uma aura de simpatia envolvia todas as suas pregações, jamais contundentes nem agressivas. É este sentimento de cordialidade e amor ao diálogo, como hoje está na moda dizer, que transparece em todas as páginas deste livro. Daí sua grandeza e sua perenidade.
A.J.L.