- In Giaccaria, Bartolomeu & Heide, Adalberto. 1984. Xavante : (Auwẽ uptabi: povo autêntico) : Pesquisa histórico-etnográfica. São Paulo: Ed. Salesiana Dom Bosco.
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APRESENTAÇÃO
É com prazer que apresento ao leitor brasileiro este livro que é mais uma valiosa contribuição salesiana ao estudo de nossas populações indígenas. Fruto de muitos anos de observação direta e de conscienciosa pesquisa, documenta a vida de uma tribo cuja cultura, como a de tantas outras, está sujeita a profundas transformações.
Até há dois decênios persistia na tradição xavánte a imagem do branco traiçoeiro como reminiscéncia de episódios que em séculos passados marcaram a história da invasão do território tribal pelos desbravadores do sertão. Por muito tempo essa imagem manteve nos Xavánte o espírito agressivo diante do mundo dos brancos, o que lhes garantia a independência e também a integridade de sua cultura. Afinal pacificados e atraídos ao convívio com o homem civilizado, são talvez a tribo jê em que hoje se acentua mais o ritmo das influências perturbadoras desse convívio.
Não há, pois, necessidade de insistir na importância dos dados etnográficos recolhidos com notável dedicação e espírito objetivo pelo Padre Giaccaria e enriquecidos com as magníficas ilustrações de Adalbert Heide. Pelo estilo sóbrio e isento de veleidades literárias, pela maneira cautelosa com que apresenta os fatos, bem como pelo cuidado com que se abstém de hipóteses arrojadas, o autor capta desde logo a confiança do especialista, que encontra nesta obra numerosos elementos não registrados por outros pesquisadores.
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Ademais, o Padre Giaccaria, além de contar com uma equipe de colaboradores e com a boa vontade dos próprios Xavánte, teve a possibilidade de estender a pesquisa a todas as aldeias da tribo, umas já bastante alteradas pelo processo aculturativo, outras ainda regidas pelos padrões tradicionais.
Mas se, por um lado, as páginas deste livro revelam objetividade que caracteriza o trabalho científico, não deixa, por outro, de haver nelas calor humano e a consciência de responsabilidade necessária à solução dos problemas indígenas. Escrita com simpatia pelo índio, sem o alarde sensacionalista e contraproducente hoje em voga, a obra contribuirá para a compreensão humana de que o aborígine, arrancado de suas primitivas condições de vida, precisa não apenas para poder sobreviver, mas também para conquistar um lugar digno no mundo atual. Ajudará a educar o branco, para que, superando os seus tão arraigados preconceitos, seja capaz de assumir, nas relações com o índio, a atitude de justiça que tantas vezes lhe tem faltado.
São Paulo, 18 de outubro de 1972.
PROF. DR. EGON SCHADEN,
da Universidade de São Paulo.