- In Baldus, Herbert. 1970. Prefácio. In Tapirapé : tribo tupi no Brasil central, p. 11-12. São Paulo: Ed. Nacional.
Prefácio
Escrevi êste livro para Charles Wagley, a mim ligado pelo amor aos Tapirapé. Escrevi-o para incentivar o colega a publicar tudo o que sabe sôbre êsses índios e o que pensa sôbre êles. Wagley ficou muito mais tempo com êles do que eu, conhece-os muito nelhor do que eu.
Quando comecei a escrever sôbre êsses Tupí, fi-lo na certeza de ter como leitores ainda três outros amigos meus: Curt Nimuendajú, Juan Francisco Recalde e Alfred Métraux. Morreram. Perdi Nimuendajú, cuja vida inteira tinha sido dedicada ao estudo e à defesa do índio do Brasil. Perdi Recalde que tanto estimulou o cultivo de sua língua materna, o guaraní do Paraguai. Perdi Métraux, autor de trabalhos básicos sôbre os Tupí antigos e atuais.
Mas outro amigo e grande entendido em Tupinambá contiinua bem vivo: Florestan Fernandes. Freqüentemente me lembrei dêle ao redigir as páginas que seguem.
São páginas que contêm dúvidas. Ao lado das coisas que vi e dos fatos que podem ser comprovados fàcilmente, há as informações que me deram os índios, as quais, embora confrontadas com as de indivíduos diversos, não deixam de ser "dados intencionais".
Quanto mais refleti sôbre o assunto, mais cresceu a minha desconfiança a respeito das interpretações tão a gôsto dos nossos teóricos. É por isso que hesitei mais de trinta anos em publicar êste trabalho que, confesso, não me satisfaz. Decidi-me, agora, tão sòmente, para não deixar de oferecer à Etnologia Brasiieira a matéria-prima que por pouco não seria divulgada.
Para caracterizar melhor a cultura tapirapé, comparo-a com as culturas das tribos vizinhas e de diversas outras tribos tupí. A consideração de certos pormenores revela, às vêzes, peculiaridades culturais que se opõem a dadas generalizações difusionistas.
Visitei os Tapirapé em 1935 e 1947. Descrevi a primeira viagem, feita em companhia do missionário escocês Rev. F. C. Kegel, na Revista do Arquivo Municipal, volume XCVI, São Paulo 1944, e a segunda n'O Estado de S. Paulo, em outubro e novembro de 1947. Desta última há, ainda, o diário de meu companheiro Dr. Haroldo Cândido de Oliveira, publicado em 1950, sob o título Índios e sertanejos do Araguaia (Edições Melhoramentos).
As peças etnográficas que obtive dos Tapirapé, em 1935, estão, na maior parte, no Etnografiska Museet de Gotemburgo. As que colhi em 1947 foram incorporadas ao acervo do Museu Paulista.
Alguns capítulos da presente monografia, publicados, de 1944 a 1949, na Revista do Arquivo Municipal de São Paulo, reaparecem, agora, com modificações e acréscimos.
A publicação desta obra, na imensidade de suas quinhentas páginas, não teria sido possível sem a coragem do editor Octalles Marcondes Ferreira. D. Maria Helena C. de Figueiredo Steiner, D. Lolita E. de Almeida e Mário Neme leram partes do manuscrito inédito, fazendo valiosas correções. D. Ruth Franck e D. Regina Célis Fagundes me ajudaram na leitura das provas tipográficas.
Insiro neste livro os resultados da inspeção médica dos Tapirapé feita em 1947 pelo Dr. Haroldo Cândido de Oliveira. Como apêndice aparece o estudo dos característicos antropométricos realizado pelo Dr. Emílio Willems, professor de Antropologia da Vanderbilt University, que se baseia em medidas tiradas, ern 1948, por Harald Schultz, meu saudoso assistente no Museu Paulista. Parte das fotografias foi tirada por frei Pedro Secondy, O. P. e pelos fotógrafos do Museu Etnográfico de Gotemburgo e do Museu Paulista, sr. Antônio Macedo; parte das figuras foi desenhada por desenhistas daquele museu sueco e pelo sr. Francisco Garcia, do Museu Paulista.
Tôdas as pessoas citadas que, de boa vontade, colaboraram comigo, são credores da minha gratidão.
HERBERT BALDUS