- In Almeida, Antônio; Irmãzinhas de Jesus; Paula, Luiz Gouvêa de. 1983. A língua Tapirapé. Rio de Janeiro: Biblioteca Reprográfica Xerox.
As Irmãzinhas de Jesus e o casal Luís e Eunice, com o seu Wãpurã agora rapaz ritualmente reconhecido, não permaneceram, longos anos, no meio do Povo Tapirapé somente de "ouvido desarmado". Ficaram na aldeia de coração aberto, em convívio diário, experimentando as angústias, as alegrias e as vitórias desse Povo tupi-guarani, sobrevivente ao grande saque de conquistadores, bandeirantes e latifundiários.
Fazer a primeira gramática de um Povo pode ser codificar apenas um passado, pode ser também propiciar mais sistematicamente um futuro. Porque a língua escrita é como a infra-estrutura da alma falada de um Povo.
Os autores desta gramática, confeccionada com um desígnio eminentemente prático porém pioneiro, apostam no futuro da nação Tapirapé, querem servir à afirmação de um Povo, em risco de extinção trinta anos atrás e hoje se multiplicando em filhos, em consciência étnica e na prática militante de garantir as próprias terras e a auto-determinação.
Porque os autores desta gramática tapirapé ou não são científicos ou são mais do que científicos apenas. As Irmãzinhas de Jesus e o casal Luís e Eunice, com o seu Wãpurã agora rapaz ritualmente reconhecido, não permaneceram, longos anos, no meio do Povo Tapirapé somente de "ouvido desarmado". Ficaram na aldeia de coração aberto, em convívio diário, experimentando as angústias, as alegrias e as vitórias desse Povo tupi-guarani, sobrevivente ao grande saque de conquistadores, bandeirantes e latifundiários. E o lingüista português Antônio Almeida, professor na longíqua Alemanha, soube se aproximar do Tapirapé com respeitosa amizade e sistematizou o labor do convívio diário com desinteressada dedicação.
O trabalho bilingüe que vem se realizando há vários anos, na aldeia Tapirapé, contará de agora em diante com o valioso instrumento desta gramática, cada vez mais indispensável para os professores e para os alunos proporcionahnente. Os índios Tapirapé, autores primeiros e senhores de sua língua falada ou escrita, se encontrarão nesta gramática como num álbum recuperado da família e se afirmarão, com ela, como Tapirapé falando tapirapé.
Eles já salvaram sua terra, mesmo que sucessivamente cambiante e dizimada. Salvem também sua língua plenamente. Sobrevivam, cresçam, floresçam como Povo Tapirapé.
A primeira Consulta Ecumênica latino-americana de Pastoral Indígena, realizada em Brasília neste mês de maio de 1983, lançava para as lutas da Causa Indígena a palavra de ordem de "organizar a Esperança continentalmente". Organizar uma língua indígena é contribuir a organizar a esperança indígena.
À instituição de ajuda "MISEREOR", dos católicos da Alemanha, quantos nos sentimos comprometidos na causa Tapirapé agradecemos a contribuição fmanceira que possibilitou a confecção desta gramática. À XEROX DO BRASIL agradecemos a sensibilidade generosa com que a acolheu em suas máquinas.
Agora, é estudar Tapirapé, falar Tapirapé, fazer nova História Tapirapé.
Pedro Casaldáliga
Bispo de
São Félix do Araguaia, MT
maio de 1983