Pe. Francisco das Chagas Lima: notas biográficas

Trecho extraído de Genealogia Paranaense, de Francisco Negrão, disponível online (consultada em 29 de dezembro de 2008)

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Padre Francisco das Chagas Lima, nascido no anno de 1757, em Curityba, onde foi Vigario, desde Julho de 1784 até Setembro de 1795. Era presbitero secular. Em 1800, o Governo de São Paulo o encarregou de catechisar e aldear o gentio, que andava errante pelos sertões de Mantiqueira, divisa de sua capitania. Nessa missão prestou relevantes serviços, como tambem em uma epidemia que reinou no Rio Parnahyba. Foi o fundador da Aldeia de São João de Queluz, de cuja igreja foi o administrador das obras.

Em Maio de 1804 era vigario de Guaratinguetá. Em 1809 foi provido no posto de primeiro Capellão da expedição á Guarapuava e Vigario collado da freguezia de Nossa Senhora do Belem de Guarapuava, com a missão de catechisar o gentio de Atalaia.

Em memorial ao Bispo D. Matheus, datado de 1818, mostrou a necessidade de uma igreja matriz em Guarapuava, onde já se havia chamado ao gremmio da civilização mais de 200 indios que se achavam aldeados, a par de 20 casaes de nacionais e portuguezes, que povoavam os campos com mais de 1500 animaes. Allegou nessa representação o alquebramento de sua saude consumida em 61 annos de idade e 38 de sacerdocio, dos quaes, 13 annos em laboriosos exercicios de catechese de indios selvagens, a saber: 4 na Aldeia de Queluz e 9 em Guarapuava, e não pretende terminar seus dias sem Ter completado a sua gloriosoa missão civilisadora e a de ver erecta a igreja matriz de Guarapuava, como teve o consolo de ver a de Queluz. O bispo D. matheus informando a El- Rey sobre a justiça da representação do Padre Chagas, diz:

«Os indios brutos hão de converter-se, com grande vantagem da nossa santa religião, com o zelo e grande cuidado desse santo sacerdote, - o Padre Francisco Chagas de Lima, de uma virtude consummada, que tanto tem trabalhado em catechisar os indios, não poupando a sua saude e vida, sujeitando-se a tantos perigos…

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«Para tão benemerito servidor pedi a congrua annual de 200$000….»

-O Conego Ildefonso Xavier Ferreira, illustre Curitybano, do qual logo em seguida trataremos, escreveu em São Paulo a 13 de Agosto de 1853, no Prologo a Constituição do Arcebispado da Bahia, ao referir-se a catechese dos aborigenes pelos jesuitas, diz: «Não somos nem pró, nem contra os Jesuitas; se reconhecemos seu merito, não defendemos seu machiavelismo posterior…Entretanto desde que se perdeu a arte e a maneira particular dos jesuitas na catechese dos indigenas, não se tem podido chamar com proveito os selvagens, nem ao gremio da igreja, nem mesmo a sociedade civil.

«Alguns sacerdotes tem feito serviços, neste genero, dignos de consideração do Governo e da gratidão da posteridade. Mas tudo fica olvidado, tudo é desprezado, quando não é dirigido por mãos extrangeiras.

«No começo do presente seculo, appareceu nesta provincia um genio raro, um destes ornamentos do clero de S. Paulo, o virtuoso Curitybano Padre Francisco das Chagas Lima, que estando capellão da «Apparecida» (em Guaratinguetá) foi mandado a Queluz, hoje Villa Rica, bastante populosa, ao pé das Arêas, para catechisar os indios, que viviam n’aquelle lugar.

«Luctando com a penuria, com a fome e com a miseria (porque o Governo de então quasi nada lhe ministrava) conseguio graças aos benemeritos seus Amigos de Guaratinguetá) aldear os indios, reduzil-os a fé catholica e proporcionar aos fazendeiros aquelles ricos terrenos para a cultura do café. Ha passado meio seculo, e sabemos que ainda existem poucos descendentes dessa horda, ali subsistentes, e que a villa de Queluz é uma das mais florescentes da Provincia.

« Poucos annos depois foi mandado este Apostolo a Guarapuava (ao sul da Provincia) e tendo outros recursos do Governo, porque já existia no Brasil a familia Real Portugueza, Conseguiu catechisar tres nações diversas cujas linguas falava perfeitamente, contando já innumeraveis filhos, arrancados a idolatria; seus trabalhos foram destruidos pelo commandante da expedição que contra a vontade do Padre Missionario queria misturar, e com effeito misturou, os soldados com os indigenas, facilitando assim a desenvoltura dos soldados e dos indigenas, tambem a ella propensos.

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Este passo foi bastante para que o Padre enlouquecesse, e assim findou seus tristes dias na Villa de Parnahyba, seis leguas da Cidade de S. Paulo, em companhia de seu irmão Padre João Gonçalves de Lima, pobre e sem a menor gratificação do Governo.»

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