Em duas línguas indígenas do leste brasileiro, o Krenák (Borum) e o Kipeá (Kariri), etnônimos para "negro (africano)" apresentam formas semelhantes, ambas empréstimos do português Angola: ngorá (Krenák) e gorá (Kipeá) (Ribeiro 2009). Tais empréstimos atestam uma acepção do vocábulo — não somente como topônimo, mas também etnônimo — que eventualmente cairia em desuso no português, mas que é plenamente atestada na literatura colonial, como nesse trecho da Vida do venerauel padre Ioseph de Anchieta de Simão de Vasconcellos (1672:44):
[O noviço Leonardo do Valle] "entrou nos ſertoens , conuerteo muitas almas a pé , quaſi deſcalço , com alpergatas feitas de cardos brauos , que era o couro daquelle tempo , inſinando a índios , & Angolas pellas ruas , & pedindo o ſuſtento da vida por eſmola , de porta em porta." [vide original]
A extensão metonímica Angola(no) > africano é compreensível quando se considera que a imensa maioria dos escravizados provinham da região centro-ocidental do continente, através dos domínios portugueses na região.1 O topônimo Angola, por sua vez, é um aportuguesamento de ngola, título nobiliárquico usado pelos reis de Ndongo, um Estado pré-colonial africano na região do país onde se fala Kimbundo.
(Verbete criado em 14 May 2021 03:35. Última modificação em 12 Dec 2021 00:46)