por Dr. H. Snethlage; traduzido por Hein van der Voort
- Snethlage, H. 1928. Der Tanz der Kröte Cururú. Der Erdball, ano 2, p. 384.
Como se sabe, um grande número das danças modernas foram emprestadas de populações selvagens. Neste respeito provavelmente vale a pena descrever a dança do sapo dos Guajajáras (Tupí), que habitam nas suas aldeias no estado brasileiro de Maranhão. Eu a vi pela primeira vez em uma aldeia desta tribo de índios no rio Grajahú.
O cacique e eu estávamos sentados num tronco de árvore na frente de uma maloca, batendo um papo. Ao redor de nós estavam homens, mulheres e crianças do pequeno povoado. Foi uma noite clara cheia de estrelas, enquanto a lua nascente lançava seu brilho prateado sobre nós. Aí meu vizinho começou a cantar e bater o ritmo com o pé; outras vozes juntaram-se, o canto aumentou, atenuou-se de novo. Pausa. De novo começou o canto; quando ficou mais alto o cacique levantou-se, dançou alguns passos, e sentou-se de novo. Aí, trouxeram um charuto gigantesco, do qual ele tomou algumas tragadas. Depois disso, repetiu a sua dança com mais vigor, enquanto eu usei a ocasião para provar o charuto. Não foi muito de meu agrado, os nervos da cavidade bucal ficaram atordoados de vez. Porém, o cacique utilizou cada pausa na dança, que ficou cada vez mais louca, para fumar intensamente. Ele precisava disso, como os resultados devem mostrar. Porque um fogo considerável foi atiçado, ao redor do qual os companheiros castanho-avermelhados pularam em completa euforia. De repente o cacique agachou-se, e com o hu hu hu imitado do sapo cururu (Pipa americana), ficou saltitando dentro do fogo. Logo, ele pegou uma brasa, e, assoprando-a na boca, engoliu-a lentamente. Isso foi um, não o, auge da dança, porque essa durou quase sem interrupção a noite inteira. E sempre se repetiu a deglutição da brasa!
Tradução publicada em 28 de outubro de 2018. Antonio Candido, em "Possíveis raízes indígenas de uma dança popular" (1956), inclui o exemplo desta dança dos Guajajara em sua discussão sobre a possível origem Tupi da dança cururu dos "caboclos de São Paulo, Goiás e Mato Grosso", incluindo a tradução de um trecho parcialmente idêntico a este texto, extraído de uma outra publicação de Snethlage (1927).