Particularmente, afastamo-nos da nomenclatura e mesmo da técnica gramatical em uso entre os indigenistas norte-americanos. Conquanto admirável pela precisão e objetividade, tornou-se de tal forma especializada, que requereria um prévio estudo, não menos árduo que o próprio estudo da língua tupi. Desserviria, assim, ao objetivo de divulgação desta obra, destinada não a lingüistas mas ao grande público brasileiro, que dedica ao assunto um interesse crescente mas sem preocução de cunho científico. Na escrita obedecemos ao mesmo critério: um alfabeto simples, evitados, quanto possível, os caracteres exóticos. Fique o rigor fonético para as obras técnicas, de caráter lingüístico. Nenhum gramático português, espanhol, inglês, nenhum latinista se lembrou de usar o alfabeto fonético internacional nas suas obras de divulgação. Só abrimos uma exceção para as semivogais, que foram gravadas sempre î, û, ŷ. Dada a absoluta necessidade de distinguir entre ditongos e hiatos, após madura reflexão pareceu-nos essa a melhor alternativa. O embaraçoso problema da divisão das palavras compostas, dos elementos incorporados, principalmente das partículas átonas, procuramos resolvê-lo eclèticamente. Fugindo tanto das palavras incomensuráveis dos antigos gramáticos, quanto da fragmentação em pequenas particulas átonas ou integrantes silábicas de outros morfemas. O hífen (de que alguém pensará que abusamos), pareceu-nos solucionar suficientemente o duplo problema: da decomposição semântica (importante para quem começa a estudar), sem prejuízo do feitio incorporativo da língua e sem quebra da unidade fonológica das palavras. Por outro lado, visto o caráter prevalentemente didático do hífen, não cause espécie se acaso, neste CURSO, uma mesma palavra figure ora com, ora sem êle. Estuda-se aqui o tupi antigo, não o guarani nem os dialetos modernos, cujo contacto com o português se circunscreveu a regiões relativamente pequenas do território nacional. Nosso estudo versa sôbre a língua documentada nos dois séculos que medeiam entre 1550 e 1750. Nessa época já o tupi se distinguia sensivelmente do guarani, embora as divergências não fôssem profundas. Mas mesmo no domínio do tupi havia ligeiros matizes regionais, sobretudo no campo da fonologia (v. n. 26, 39). Nesta obra, salvo indicação em contrário, trata-se do dialeto falado na Costa, desde o Rio de Janeiro até o Maranhão. Respeitamos o tradicional apelativo "tupi", que, entretanto, de inicio só cabia à tribo e à língua dos "tupis" (de São Vicente), tendo-se estendido |
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