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do texto é compensada pelo rico vocabulário manejado nos exercícios. Nestes, deu-se preferência aos têrmos relacionados com a cultura indígena, e às vozes irregulares. Pouca margem deixamos aos zoônimos e fitônimos: regulares, parco é o seu interêsse gramatical. Por outro lado, são de fácil consulta nos vocabulários e obras congêneres.

Fizemos uma gramática expositiva, e não um estudo histórico ou comparativo. Quisemos expor os fatos da língua, não explicá-los. Não vemos por que imprimir, logo de início, ao ensino do tupi, um cunho erudito, que não se dá ao estudo clássico das outras línguas, como o francês, o inglês, o latim, o próprio português. Ao comum dos leitores, letrados, porém não necessàriamente lingüistas nem americanistas, interessa conhecer o tupi, mas talvez não a sua história, nem as suas relações com outras línguas ou dialetos. Um estudo dessa natureza, ideal para os especialistas, poderia afastar grande número de iniciantes. Se a língua tupi interessa particularmente à cultura nacional, deve-se isso ao papel que o idioma desempenhou na história do país, assim como à contribuição que trouxe para o português falado no Brasil. Não são razões de caráter glotológico. Sob êste prisma, o tupi teria o mesmo interêsse que qualquer outro idioma indígena do Brasil ou da América. Pela mesma razão, o seu lugar no Curso Superior não é ao lado da etnografia nem da lingüística nem da antropologia, mas sim na seção de letras (conceito que no Brasil será mister alargar, pois que temos um passado próprio, com resultantes lingüísticas e culturais próprias). A isso acresce ponderar que o tupi não foi apenas uma língua primitiva, senão também língua de civilização ou "comum". Seu estudo, se quiser ser objetivo e real, não pode ser equiparado simplesmente ao dos idiomas de outros índios que nunca tiveram prolongado contacto lingüístico com os brancos.

Entenda-se, assim, por que conservamos a nomenclatura gramatical indo-européia, embora sabendo que em tupi não há gêneros, números, casos, etc. Procuramos destarte satisfazer à natural exigência do espírito civilizado de saber como se exprime na outra língua aquela categoria gramatical, sem a qual não se está acostumado a falar, talvez nem sequer a pensar. A nomenclatura, desde que a tempo reduzida ao seu verdadeiro lugar, não traz prejuízo real, e serve até de ponte entre os dois mundos: a língua civilizada e a língua primitiva.

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