A Fundação Memorial da América Latina lança o livro Línguas Ameríndias - ontem, hoje e amanhã, sobre o diversificado e riquíssimo universo linguístico dos povos originários das Américas. A obra dá permanência à ação cultural concebida pelo Centro Brasileiro de Estudos da América Latina, deste Memorial, da qual fizeram parte debates, seminários, cantos, danças, rituais, exibição de documentários, contação de histórias, saraus e até um minicurso do idioma nahuatl. As atividades integraram o Ano Internacional das Línguas lndígenas (2019), em parceria com a Unesco.
A fim de examinar algumas linhas de desenvolvimento dos troncos linguísticos que entraram nas Américas pelo Estreito de Bering há vários milênios (a época exata continua em debate, como veremos no livro), resolvemos nos deter em certas línguas e culturas e, através delas, olhar para os subcontinentes americanos. São elas o Nahuatl (língua dos astecas) e o Quiché (dialeto maia), ambas na Mesoamérica; o Quéchua (Andes, na região do antigo Império Inca), o Yawalapíti (Amazônia) e o Guarani (sudeste e sul do Brasil, noroeste da Argentina, Bolívia e Paraguai). Todas são línguas vivas que enfrentam diferentes ataques.
A obra é dividida em cinco partes: na primeira, Línguas em risco nas Américas, Eduardo Rascov chama atenção para a riqueza das línguas ameríndias e para a tragédia do seu silenciamento. Na segunda, Línguas das Terras Baixas, são apresentados textos sobre os indígenas das planícies e selvas sul-americanas, como os Yawalapíti do Parque Indígena do Xingu, na beira da região amazônica. Dela fazem parte os depoimentos de Cris Takuá e Karai Jekupe (educadores das escolas indígenas de suas aldeias), dos professores Danilo Silva Guimarães e Briseida Dogo de Resende (ambos do Instituto de Psicologia da USP, onde foi construída uma Casa de Reza guarani) e de Carlos Papá Mirim Poty (cineasta da aldeia Rio Silveira, no litoral paulista). Encerrando essa seção, o capítulo 9 traz A captura do invisível, artigo da filósofa boliviana Yanet Aguilera (Unifesp), que reflete sobre aspectos do som no cinema feito pelos próprios indígenas.
Línguas das Terras Altas é o nome da terceira parte deste livro, que aborda as línguas e as culturas dos Andes. Um dos destaques é o depoimento do artista plástico e historiador peruano Adrián Ilave Inca sobre o quipo, forma de registro e escrita única no mundo, desenvolvida no Império Inca. A seção seguinte, Línguas da Mesoamérica, traz artigos de estudiosos que participaram dos seminários sobre as culturas mesoamericanas na Galeria Marta Traha, do Memorial. Ana Cristina Vasconcelos e Eduardo Gorobets (pesquisadores do Centro de Estudos Mesoamericanos e Andinos - CEMA, da USP) escreveram sobre a língua e cultura dos mexicas. Daniel Grecco (também do CEMA) e o historiador colombiano Fernando Torres Londoño (PUC-SP) versaram sobre o maia-quiché e um dos mais enigmáticos e belos livros da história da humanidade - o Popol Vuh.
A seção Revitalização linguística e cultural finaliza este livro. Nela, o professor peruano Angel Corbera Mori (editor do periódico Liames - Línguas indígenas Americanas, publicado pelo Instituto de Estudos da Linguagem da Unicamp) analisa o "estado da arte" dos estudos das línguas ameríndias na América hispânica e no Brasil, bem como as implicações, os anseios e as esperanças suscitadas pelo Ano Internacional das Línguas Indígenas.
Luciana Latarini Ginezi
Diretora do Centro Brasileiro de
Estudos da América Latina
FUNDAÇÃO MEMORIAL DA AMÉRICA LATINA
[das orelhas do livro]