O milho, uma planta domesticada na América, é a que hoje apresenta a maior produtividade entre as culturas extensivas de grãos e tem uso muito
difundido em vários continentes, tanto para alimentação humana, quanto para ração de animais.
O que sobre ele conhecemos, ou presumimos conhecer, entretanto, é pouco frente ao que dele ignoramos, tanto no que se refere à origem, à dispersão na América e no Mundo, às qualidades alimentícias, às maneiras de prepará-lo e aos males que sua ingestão descontrolada pode ocasionar.
Na cultura popular, e mesmo nas sínteses feitas por arqueólogos e antropólogos, sua importância para as culturas indígenas americanas, também
pode estar bastante distorcida.
Este volume de Pesquisas, da série Antropologia, oferece uma visão sob muitos aspectos nova e surpreendente a respeito de todas essas questões.
O texto não é de um jovem antropólogo ou arqueólogo, mas de alguém que, tendo adquirido o seu doutorado no momento devido e depois realizado uma intensa vida profissional fora da Academia, nos seus sessenta anos resolveu matricular-se num mestrado e escrever uma dissertação sobre o milho na América do Sul pré-colombiana, texto em que deposita toda a sua imensa pesquisa bibliográfica e todo o conhecimento adquirido movimentando-se pelo mundo. Não tenho a pretensão de sintetizá-lo nessas palavras introdutórias, apenas fazer uma sintética apresentação do autor, escrita por ele mesmo.
Alessandro Barghini: Nascido em Roma, em 1940, cresceu em um ambiente cultural permeado pela filosofia histórico-idealista de extração hegeliana, com forte influência das correntes da esquerda marxista. Ainda na época do ginásio, teve contato com a corrente da antropologia cultural de origem inglesa, com a leitura de Frazer e Malinowsky, o que incentivou uma série de pesquisas sobre os ritos agrários e tradições da Idade Média, participando inclusive de escavações arqueológicas realizadas pela British School em Roma. Alguns resultados dessas pesquisas foram publicados, entre 1961 e 1970, nas revistas Sociologia Rurale, Quaderni di Sociologia Rurale, Le Scienze (edição italiana do Scientific American) e no suplemento cultural Paese Sera Libri.
Em 1965, recebeu o título de Doutor em Ciências Políticas pela Universidade de Roma com uma dissertação sobre a transformação das tribos
africanas em Estados, na época da descolonização, para cujo preparo freqüentou cursos de antropologia na London School of Economics, em Londres, e na École des Hautes Études, de Paris.
Primeiro como pesquisador, em seguida como consultor internacional, passou a se interessar pela área de planejamento energético, entrando nas
tecnologias do carvão, petróleo, gás natural, eletricidade e fontes alternativas de energia. Desenvolveu projetos e concretizou trabalhos em diferentes países (Itália, França, Canadá, USA, Brasil, Peru, Bolívia, Colômbia, Chile, Equador), para grandes empresas (Fiat, Eletrobrás, Hidro-Quebec, Inecel, Bolivian Power Company, Coopersucar, Shell) e para organizações internacionais (Banco Mundial e Fundação Rockefeller).
Apesar de aparentemente distante do tema antropológico, o trabalho de planejamento energético permitiu o contato com diferentes culturas, e alguns períodos de convivência com populações em fase de transição do tradicional para o moderno. Entre as populações com as quais teve contato estão os Inuit, no Canadá, os Ashuar, os Canelos e os Sicona, no Ecuador, os Aimara e os Guarani na Bolívia, os Ticuna, os Ianomami, os Makuxi Wapixana e os Guarani no Brasil, os polinésios na ilha de Páscoa.
Em 2001, com a intenção de sistematizar conhecimentos adquiridos durante toda a sua vida profissional, retomou o estudo do milho, iniciado ainda nos anos 1950 quando pesquisava os ritos agrários europeus. Em 2003, recebeu do Instituto de Biociência da Universidade de São Paulo o título de mestre em Ecologia, com uma dissertação sobre o milho pré-colombiano, que resultou na presente publicação.