Biblioteca Digital Curt Nimuendajú

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Coleção Nicolai

Todos já vimos ou ouvimos algo sobre os Yanomami, tornados um dos signos de nossa época — a segunda metade do século XX e este portal do XXI, que ainda sondamos: correu adrenalina pura nas veias desse povo que sentiu forte a pressão da civilização, daquilo que aprendemos a chamar de progresso.

Foi grande a ameaça de genocídio sobre essa nação indígena americana, sujeita a todas as tempestades políticas de uma região de fronteiras, tendo ainda que conviver com as diferenças de cultura que envolvem os povos indígenas das duas bandas, Brasil x Venezuela, já que metade da população Yanomami vive do lado de lá da fronteira. A tragédia do encontro com os brancos foi comparada a guerras de extermínio e "limpeza étnica"; e nunca faltaram profecías de seu desaparecimento como povo diferenciado culturalmente, como a do professor René Furst, do Museu do Homem, em Genebra, que nos anos 80 projetou mais uma ou duas décadas para a "inclusão" desse povo na vida brasileira, como caboclos e ribeirinhos.

Yanomami - Um Povo em Luta pelos Direitos Humanos, em boa hora editado pela Edusp, reúne dados importantes para uma radiografia da situação das sociedades indígenas no Brasil. A leitura do trabalho de Neuza Romero Barazal não apenas permite um conhecimento maior dessa que é considerada a mais numerosa tribo indígena de floresta e que alcançou o século XXI vivendo (ainda!) isolada do mundo dos brancos, mas oferece também grande ajuda para quem busca conhecer de perto a história de luta e resistencia dos povos nativos no continente americano. Indo além das fronteiras nacionais, lança luz sobre as relações de poder que são o motor de toda a devastação da floresta onde vivem esses povos tradicionais, sitiados por garimpos, madeireiras e fazendas, que são estimulados por políticas regionais de colonização a qualquer custo.

A isto se junta ainda a trama das políticas de fronteira entre Brasil e Venezuela, nossas relações internacionais, via OEA e ONU, tratados e acordos internacionais sobre Direitos Indígenas, que o Brasil deve acatar e implementar. Foi esse o caminho que a autora teve de percorrer para desenhar o mapa da destruição que já estava pronto em 1970 para o mundo de florestas, rios e montanhas dos Yanomami, onde, apesar de tudo, sua cultura segue viva.

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