1797

<

>



ANCHIETA, José de [1534-1597]
  • Poesias. Manuscrito do séc. XVI, em português, castelhano, latim e tupi. Transcrição, traduções e notas de M. de L. de Paula Martins. Apresentação de Herbert Baldus. Prefácio de Hélio Abranches Viotti. Boletim do Museu Paulista, IV. São Paulo 1954. xxvii, 835 pp. in-8º, 22 figuras no texto.

Esta obra monumental divide-se em duas partes. A primeira apresenta textos poéticos de um caderno do insigne jesuíta em edição diplomática acompanhada de reprodução fac-similar. A segunda parte repete os mesmos textos, agrupando-os segundo as diversas línguas dos originais (português, castelhano, latim, tupi e polilíngüe), modernizando a ortografia e pontuação, acrescentando comentários e juxtapondo aos textos em latim e tupi a versão portuguêsa.
Analisando-lhe o valor etnológico, podemos distinguir os dois seguintes aspectos: (1) o que o livro diz a respeito da cultura dos índios; (2) o que êle diz com referência à atitude do autor em relação aos índios, portanto à cultura dêle e ao tratamento dispensado pelos missionários aos catecúmenos.
Os dados etnográficos propriamente ditos não acrescentam muito de nôvo ao que Anchieta em outros escritos (B. C. 53) e os demais quinhentistas nos relataram dos Tupinambá. Sendo uma parte das "Poesias" peças teatrais destinadas a retratar e reprovar o pecado, elas apontam aspectos que chocaram o missionário. Assim, por exemplo, o Diabo acusa uma alma que acaba de se desprender do corpo de um índio: "…Embora não fôsse briguenta, tu espancaste a pau a tua espôsa!…Também roubaste um certo vinho. A certa mulher casada fizeste convites criminosos." (628-629). Comportamento semelhante podemos observar entre Tupi modernos. Na peça intitulada Na Festa de São Lourenço (p. 686) e na sua adaptação com o título Na Festa do Natal (p. 750), o Diabo recomenda:
"É bom dançar,
adornar-se, tingir-se de vermelho,
empenar o corpo, pintar as pernas,
fazer-se negro, fumar,
curandeirar…"
Esta enumeração, aliás etnogràficamente interessante, de tão importantes traços da cultura tupinambá como sendo costumes do agrado de Satanás e, portanto, sujeitos à condenação pela Igreja, evidencia a posição do jesuíta quinhentista em relação à cultura indígena.
Cf. o comentário de Herbert Baldus na Revista do Museu Paulista, N. S., X, São Paulo 1956/58, pp. 307-308.

(p. 54-56)

This site is part of the Etnolinguistica.Org network.
Except where otherwise noted, content on this site is licensed under a Creative Commons Attribution 3.0 License.