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FERNANDES, Florestan
  • Organização social dos Tupinambá. Prefácio de Herbert Baldus. São Paulo s.a. (1949). 327 pp. in-8.º, diagramas, 1 mapa e 8 figuras no texto, 1 tabela fora do texto, índices alfabéticos de nomes e assuntos. Bibliografia. - As pp.74-128 foram reproduzidas sob o título "A economia tupinambá" na Revista do Arquivo Municipal, CXXII, São Paulo 1949, pp.11-71, sendo a transcrição acompanhada de introdução (ib.pp.7-11), bibliografia (ib.pp.71-77) e 11 pranchas fora do texto.

O problema principal da presente obra consiste em reconstruir, analisando com métodos modernos, a organização social duma tribo extinta há séculos e descrita em fontes de valor desigual. Depois de discutir, na introdução, o conceito de organização social, o autor estuda, no primeiro capítulo (pp.25-53), a distribuição espacial dos Tupinambá em diversas épocas e as causas de seu desaparecimento. No segundo capitulo (pp.55-128) trata do "grupo local", isto é, da unidade social descrita pelos antigos cronistas sob o nome de "aldeia". Compila os dados referentes ao número e à distribuição de tabas tupinambá, analisa as relações existentes entre elas e dentro de cada uma delas e mostra a interdependência de aspectos econômicos e sociais. O estudo do sistema de parentesco, pela importância fundamental que êste possui para a organização social tupinambá, não só constitui, com suas noventa e tantas páginas, o mais extenso dos cinco capítulos do livro, como também a parte principal e mais substanciosa. Trata da ordenação das relações sexuais, da concepção que os Tupinambá tinham do parentesco, do culto aos mortos, da nomenclatura de parentesco, da ordem matrimonial e da organização da família, como também do comportamento recíproco dentro dela. O quarto capítulo (pp.221-259) apresenta, sob o título "As categorias de idade", as fases do ciclo de vida do indivíduo, aceitando o autor a divisão referida pelo padre Yves d'Évreux. No último capítulo (pp.261-294) são estudadas duas instituições características do sistema político tupinambá, a saber: a retaliação e a gerontocracia.

O valor principal do presente trabalho, aliás, aceito como tese de Mestre em Ciências Sociais pela Escola de Sociologia e Política de São Paulo, consiste na coordenação de dados sôbre os Tupinambá não devidamente aproveitados nos estudos de Métraux sôbre a cultura material e a religião dêsses índios. Com isso, porém, não quero dizer somente que o livro de Florestan Fernandes "enche uma lacuna". Seu autor pensa com audácia e penetração. Dando à obra caráter às vêzes hipotético, enriqueceu-a com sugestões interessantíssimas que fertilizarão amplamente as ciências do Homem e, especialmente, a Etnologia Brasileira. Embora certas interpretações permaneçam controversas, por exemplo a dos ritos ligados ao complexo da antropofagia como sendo "a forma assumida pelos ritos de iniciação na sociedade tupinambá" (p. 231), não se poderá mais tratar dos índios do Brasil sem tomar em consideração o magnífico livro sôbre a "Organização social dos Tupinambá".

Cf. os comentários de Antônio Cândido na Revista do Museu Paulista, Nova Série, III, São Paulo 1949, pp.473-477 e de Plínio Ayrosa na Revista de História, 1, n. 1, São Paulo 1950, pp. 112-115. Florestan Fernandes respondeu a êste último ibidem, n. 2, pp. 253-258.

(p. 235)

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